Considerações Sobre Sangue!

Fica a Saudade e o Exemplo!
24 de junho de 2022
Mérito Profissional da Abrasci.
24 de novembro de 2022

Considerações Sobre Sangue!

A Vida Está no Sangue.

por Jean Alves Cabral (https://professorjean.com)

E tomando um cálice, rendeu graças e deu-lho, dizendo: bebei dele todos; pois isto é o Meu sangue, o sangue do Concerto, o qual é derramado por muitos para remissão dos pecados. Mas digo-vos que desde agora não mais beberei desse fruto da videira até aquele dia em que convosco o beba novamente, no reino de Meu Pai.[1]

1. A Questão Alimentar É Fundamental.

Aos setenta anos, uma pessoa com cerca de 1,70m, 70 Kg e atividade moderada, terá ingerido cerca de 45 mil quilos de comida em 77 mil refeições; terá passado cerca de 38 mil horas comendo e haverá introduzido em seu corpo mais de 40 mil litros de água, se bebeu em média 1 ½ litro de água ao dia.

Será que a constatação destes fatos indica porque a qualidade e a quantidade dos nossos alimentos utilizados ao longo da vida afetam profundamente quem somos?

Todo e qualquer tipo de situação que afete a nossa saúde é, sem sombra de dúvidas, o reflexo de uma condição objetivamente nutricional. Por esta razão temos que repensar nosso conceito de dieta, pois, embora seja verdade que “entre o ventre materno e o túmulo resta-nos viver intensamente o intervalo”, é igualmente verdade que “ninguém deseja viver cheio de moléstias e mazelas enfermiças”.

Na Natureza estão todos os ingredientes que nos possibilitam uma vida normal e natural. Ela possui leis que regulam naturalmente todos os fenômenos físicos, químicos e biológicos. Se aprendermos a observar as suas leis, entenderemos porque nossos hábitos alimentares estão matando-nos prematuramente. Especialmente porque criamos um padrão que obedece a uma ordem de desequilíbrio do que é natural e normal.

Ou seja, o padrão de vida que temos é, no tempo presente, artificialista e contrário à naturalidade da vida humana. Mas só se pode saber disto quando tomamos tempo para meditarmos e refletirmos nesta verdade.

Nossa proposta como Naturologistas Clínicos não é a de apresentar para a população uma terapia nutricional; não, as pessoas não precisam de terapia dietética, precisam aprender a comer com racionalidade, dentro do padrão ideal e normal, que é, com absoluta certeza, o padrão estabelecido pela Natureza. Não precisamos de terapias alternativas, precisamos de um padrão verdadeiramente saudável.

Por esta razão, podemos dizer que nossa missão como Naturologistas é, em primeira instância demonstrar como, através da alimentação bem organizada, podemos ter saúde física plena e, consequentemente, evitar doenças de toda espécie.

Esta realidade é tão esmagadora sob todos os pontos de vista, que assusta-nos verificar que não há, sob nenhum aspecto, na sociedade em que vivemos, qualquer tipo de ênfase sobre este assunto. Temos visto, com triste constatação, que o progresso técnico-científico no campo da Medicina, relega este assunto a um nível qualquer de desprestígio.

É absurda a Escola que, dizendo-se médica, não dá qualquer atenção para a relação mais vital e legítima do homem com a Natureza. É desnecessário termos que alongarmo-nos no fato vivido por todos nós com relação a este assunto. A ênfase numa alimentação bem organizada, pela mudança de hábitos na vida das pessoas, desapareceu totalmente da prática médica cotidiana e, isto a tal ponto, que quando um médico estabelece um padrão qualquer de dietética para um cliente seu, torna-se notória sua diferença e também seus resultados passam a ser melhor identificados.

E aqui cabe uma explicação definitiva! Os Naturologistas não são, como pretendem alguns que não entendem nada sobre as Ciências Naturais, uma pá cheia de esotéricos, com valores místicos pra tudo. Embora todos nós tenhamos uma condição septenária e nela esteja inserida a nossa realidade espiritual e transcendental, temos que deixar bem claro que buscamos um equilíbrio entre a modernidade e a naturalidade da vida humana. Não podemos negar os verdadeiros avanços que a modernidade nos trouxe. Especialmente no aspecto em que facilitou nossa vida social em situações tais como transportes, higiene citadina, comunicação e organização social.

Todavia, temos que verificar que, não foi pensado em manter o ser humano dentro de uma educação fiel à verdadeira ciência da vida, que se manifestando nas Leis da Natureza, impõe a todo ser inteligente uma base de qualidade existencial que possibilita o desfrute da própria modernidade. Lamentavelmente erros, omissões, mentiras descaradas e crimes absurdos são cometidos à luz do dia em termos de destruição da saúde da população e, nenhuma espécie de alarme é, sequer tocado!

Conquanto pesquisadores das maiores instituições universitárias do Mundo estejam proclamando a necessidade de uma revisão total dos hábitos alimentares e ecológicos do nosso tempo, o dia-a-dia dos consultórios médicos parece refletir ainda um descaso drástico: os clientes levam consigo um receituário de remédios e raramente recebem orientações dietéticas ou atinentes ao seu estilo de vida.

Dá-se uma imensa estima aos sintomas e não se concentra esforços na verdadeira causa primária que é alimentar. Sem uma correção alimentar séria e definitiva, não há como curar nenhum quadro clínico, muito embora seja possível com certas terapias, aliviar-se a condição do indivíduo doesto; mas, alívio não é cura e remédio não é panaceia. Agora, alimentação é condição sine qua non para qualquer ser humano permanecer vivo e são!

Em 1945, com a criação da Organização Para Alimentação e Agricultura (FAO), houve um grande despertamento para a relação que há entre dietética e qualidade de vida. Todavia, o desafio de educar uma humanidade multirracial e multicultural não é pequeno; embora a fome seja um flagelo terrível e que ainda campeia toda uma civilização, mesmo os que não passam fome, acabam por passar fome também, por alimentarem-se de forma incorreta e desordenadamente.

2. Estabelecendo Fundamentos Seguros.

Diz o texto bíblico que: “a vida da carne está no sangue” “pois, quanto à vida de toda carne, o seu sangue é uma e a mesma coisa com a sua vida”[2].

Ellen Gould White, uma das grandes expoentes da Naturologia declara:

Para termos boa saúde, é necessário que tenhamos bom sangue; pois este é a corrente da vida. Ele repara os desgastes e nutre o corpo. Quando provido dos devidos elementos de alimentação e purificado e vitalizado pelo contato com o ar puro, leva a cada parte do organismo vida e vigor. Quanto mais perfeita a circulação, tanto melhor se realizará esse trabalho. A cada pulsação do coração, o sangue deve fazer, rápida e facilmente, seu caminho a todas as partes do corpo. Sua circulação não deve ser estorvada por vestuários ou cintas apertadas, nem por deficiente agasalho dos membros. Seja o que for que prejudique a circulação, força o sangue a voltar aos órgãos vitais congestionando-os.[3]

E o fisiologista Arthur C. Guyton colabora afirmando:

A característica mais importante da circulação que se deve sempre ter em mente é que ela constitui um circuito contínuo. Isto é, se uma determinada quantidade de sangue for bombeada pelo coração essa mesma quantidade deve também passar através de cada subdivisão respectiva da circulação. Além disso, se o sangue for deslocado de um segmento da circulação, algum outro segmento deve expandir-se, a menos que haja perda de líquido da circulação. (…).[4]

Assim, fica entendido que todos nós possuímos uma grande base da vida dentro de nós. Esta base chama-se sangue. Mas, o que é o sangue?

O sangue é um líquido viscoso que circula no interior do sistema dos vertebrados. Tem importância em todos os setores da medicina, pois é através dele que as substâncias vitais atingem os órgãos e os tecidos. A mais importante dessas substâncias, o oxigênio, é carregada pelas células vermelhas fixadas à hemoglobina. O sangue é composto de duas partes: o plasma e os elementos figurados. O plasma é o transportador de todas as substâncias de nosso corpo, levando-as aos lugares onde devem agir, para nutrir, estimular ou deprimir. Também circulam nele os hormônios, encarregados de manter os vários órgãos em funcionamento equilibrado. Do ponto de vista hematológico, é o plasma o encarregado de manter o sangue fluido na circulação e contribuir para sanar rapidamente qualquer lesão que surja no sistema cardiovascular, através da ação de alguns de seus componentes. Os elementos figurados são divididos em três grupos bastante distintos: os leucócitos, que são células semelhantes em seus componentes às demais células do organismo; os eritrócitos, que não exibem núcleo e mostram morfologia e vias metabólicas diferentes das demais células do corpo; e as plaquetas, que não são células, mas fragmentos celulares com grande atividade metabólica.[5]

Por esta exposição podemos resumir o sangue à seguinte definição: o sangue é um líquido corporal humano que contêm todas as substâncias essenciais à vida de nosso organismo físico. Como foi dito, o oxigênio é a substância mais importante. E com esta afirmação concorda Braunwald ao dizer:

Como já foi discutido anteriormente, o fornecimento de oxigênio a um órgão ou tecido é diretamente proporcional ao fluxo sanguíneo, à concentração da hemoglobina e à diferença na saturação do oxigênio entre o sangue arterial e venoso.[6]

Ora, por que esta provisão de oxigênio, que é denominado como a substância mais importante na economia sanguínea é tão relevante?

A abordagem do Dr. Daniel Boarim é esclarecedora:

O Dr. Otto Heinrich Warburg, alemão, famoso por haver ganho o Prêmio Nobel de Medicina, acredita que uma das peças centrais do quebra-cabeça da causa das doenças da civilização, é a redução do oxigênio celular. Trata-se de conclusão simples, mas abrangente. Assim sendo, muitas doenças que suportamos como inevitáveis, e de certo modo incuráveis, como o câncer, o diabete melito, a aterosclerose (e as graves doenças vasculares a ela relacionadas), as moléstias autoimunes, as enfermidades reumáticas, as úlceras digestivas, etc., têm entre suas causas, como elemento de destaque, a deficiência crônica de oxigênio em momentos sutis do metabolismo celular. As alterações degenerativas que os bioquímicos e patologistas testemunham, descrevem e explicam com rebuscadas minúcias técnicas, mas que se reconhecem impotentes de evitar ou mesmo desacelerar, são, de acordo com esse postulado, a consequência de um constante ‘sofrimento’ celular por uma reduzida cota de oxigênio. A degeneração das células fecha um círculo vicioso em que a disponibilidade de oxigênio vai diminuindo cada vez mais, com resultante agravamento desse processo mortífero. Esse assunto pode parecer tão novo como intrigante. Muitos profissionais de saúde o encararão com estranheza, senão com ceticismo. Mas é preciso esclarecer que a relação do oxigênio com os processos de saúde e doença é intuição médica tão antiga que se perde no tempo. Outrossim, as pesquisas atuais, que endossam essa relação, têm conquistado simpatizantes entre pesquisadores mundialmente famosos, como o Dr. Warburg (Prêmio Nobel de Medicina) e o Dr. Hideo Noguchi, japonês. Os indícios com ‘hipóxia crônica’ (baixos níveis de oxigênio no organismo) possuem praticamente todos os sintomas inespecíficos que se não podem atribuir a causas objetivas, ou bem definidas, como sensação constante de cansaço, extremidades frias, tremores nas mãos, falta de ar sem que haja distúrbio respiratório, palpitações, tonturas, as tradicionais ‘dores nas costas’, os distúrbios psíquicos da ordem das neuroses, a tristeza e a ansiedade por qualquer motivo (ou sem motivo), as dores sem causa aparente, etc. [7]

Diante desta exposição, é razoável que perguntemos: por que nosso organismo precisa tanto deste oxigênio que sazona em todo o nosso sangue? Bem, não limitaremos toda a economia sanguínea à ingestão de oxigênio, mas usando-o como referência, por ser a mais importante de todas as substâncias, temos uma base de entendimento racionalmente bem estabelecida.

Parece-nos claríssimo que, examinar as condições que oferecemos ao nosso sangue é assunto da máxima relevância existencial. E não se trata de tema que possa ser deixado para ser resolvido um dia destes qualquer, mas tem que ser devidamente esclarecido agora.

Hoje presenciamos a hegemonia da quantidade e do número em detrimento da qualidade e intensidade. (…) O corpo humano deve ser entendido como um sistema de sistemas interdependentes que, para manter seu equilíbrio biológico e sua conexão com as Leis Naturais, necessita ser nutrido com um combustível condizente com as exigências do complexo bio-vital-molecular. Se existir um agente que interfira neste mecanismo perfeito de trocas, haverá, inevitavelmente prejuízo das funções. (…) Fato digno de nota é a condição do sangue do homem moderno; muito ácido, bastante viscoso, pobre em oxigênio, carregado de toxinas e excesso de gorduras, remédios e minerais como cálcio e sódio. (…) Perdeu-se no tempo o conceito da importância de uma dieta mais simples, frugal, natural e suficiente. (…) A condição dos intestinos do ser humano é decididamente caótica, apresentando putrefações focais ou amplas permitindo assim que o sangue assimile cronicamente cargas tóxicas que serão distribuídas por todos os tecidos e células.[8]

Sabemos que os alimentos interagem com nossa vida através de mecanismos muito especializados que estão em nosso corpo. É notório para qualquer pessoa que aquilo que comemos é dissolvido dentro de nós. O que não se sabe é o que o nosso corpo deseja retirar dos alimentos que ingerimos. Até aqui temos visto que ele está interessado em oxigênio e que há outras substâncias vitais.

Ampliemos este entendimento um pouco mais:

A função última de todos os processos digestivos e metabólicos do corpo é a de prover nutrientes para esse corpo, e, indiscutivelmente, a maior parte desses nutrientes fornece energia para a execução das diferentes funções corporais. A energia é necessária para se levantar um braço, para mover uma perna, ou para qualquer tipo de atividade que implique contração muscular.[9]

A função última? Isto é muito importante! Provisão de nutrientes? Isso é essencial no nosso entendimento!

Para Eduardo Alfonso, mestre de Naturologia, esta energia (provisão de nutrientes no dizer de Guyton) é assim entendida:

No organismo humano existe uma energia potencial, que é na verdade um reflexo individualizado da vitalidade universal. Esta energia potencial se atualiza em manifestações secundárias químicas, eletromagnéticas, caloríficas, etc., ao estímulo das energias cósmicas (calor, luz, magnetismo sideral, alimentos, etc.). Porém, e isto é o mais importante, nenhuma energia secundária se pode converter de novo na vitalidade original. Este fato, já apontado quando falamos da consciência, é correspondente a uma lei natural tão bem conhecida pelos filósofos, mas ignorada pelos médicos, pela qual nenhum efeito pode converter-se outra vez na sua causa, mas pode ser causa de outros efeitos secundários. Por conta desta posição podemos ser levados até aos mais lamentáveis erros de ordem clínica. Assim sucede, por exemplo, que se trate de aumentar a energia vital de um indivíduo, aumentando excessivamente sua alimentação, quando na realidade o que o estímulo alimentício faz é atualizar ou liberar a energia potencial da pessoa; quer dizer, gastá-la, não produzi-la. Se gasta numa maior exuberância de manifestações orgânicas, o que dá uma sensação de mais vida, porém no fundo diminui sua fonte, que deveria ter sido tratado com um critério mais conservador. Por conseguinte, a proporção adequada entre a energia individual e as energias externas que a colocam em jogo (lei das harmonias energéticas), é à base da máxima economia da força vital. Porque harmoniza o estímulo exterior com a capacidade reativa individual. E nisto fundamenta-se todo o efeito tônico que queríamos conseguir em qualquer organismo. O máximo de força no máximo produto, dizia com grande razão Letamendi, ao referir-se a sua tão discutida fórmula de vida, em que demonstrava que esta é igual ao produto das energias cósmicas pela energia individual. A capacidade reativa de um organismo pode aumentar porque aumentamos a quantidade de materiais e energias do meio ambiente que vão colocá-la em atualização funcional. E nestas trocas podemos chegar a originar um colapso da dita capacidade reativa, por um excesso de concorrência energética cósmica.[10]

Esclarecedora esta base de que “o mais importante, nenhuma energia secundária se pode converter de novo na vitalidade original”; ou seja, não podemos reaproveitar na mesma função um alimento já utilizado pelo metabolismo. O que será igualmente verdade que, uma vez mutilado um alimento, ele perde sua originalidade natural e com ela sua força própria. Nosso sangue é forjado com base no que comemos, muito bem, então cabe a pergunta estratégica: o que eu e você temos usado como alimento diariamente em nossa vida, produz bom ou mau sangue?

O argumento último de Alfonso é o de que da resposta que dermos a nós mesmos sobre tal questão, dependerá o entendimento que poderemos ter acerca das energias que estão à nossa disposição na economia sanguínea e, por extensão final, na própria síntese da Medicina que verdadeiramente objetiva restaurar a saúde das pessoas.

Como bem o disse: “no organismo humano existe uma energia potencial, que é na verdade um reflexo individualizado da vitalidade universal”; mas, se não direcionarmos nossa vida para esta energia natural, o que nos restará? Uma energia artificial? Tal energia biológica não existe, é um embuste, um engano e uma cilada para acelerar a morte de quem a utilizar!

Quais seriam as verdadeiras forças externas (energia universal) que, estando à disposição do nosso corpo, potencializam (energia interna) sua própria condição energética interior? Ou em outras palavras, onde poderemos encontrar o oxigênio que é a mais essencial das substâncias e as demais substâncias vitais para termos uma vida com qualidade satisfatória?

Deve ficar aqui explícito que, os Naturologistas não rejeitam uma discussão e nem mesmo uma pesquisa sobre quais seriam estas substâncias vitais que associadas ao oxigênio tornam-nos potencializados para a vida e vamos analisar algumas em capítulos mais adiante; todavia, não é imperativo o seu conhecimento. O que é imperativo conhecer é onde encontraremos estas substâncias, sejam elas quais forem.

É disto que Alfonso falou há poucos instantes: conhecermos onde há a vida e este lugar só pode ser nas forças da Natureza. É neste campo que se concentrou a mestra de Naturologia, Ellen G. White:

Ar puro, luz solar, abstinência, repouso, exercício, regime conveniente, uso de água e confiança no poder divino – eis os verdadeiros remédios. Toda pessoa deve possuir conhecimentos dos meios terapêuticos naturais, e da maneira de os aplicar. É essencial, tanto compreender os princípios envolvidos no tratamento do doente, como ter um preparo prático que habilite a empregar devidamente este conhecimento. O uso de remédios naturais requer certo cuidado que muitos não dispostos a exercer. O processo da Natureza para curar e construir é gradual, e isso parece vagarosos ao impaciente. Demanda sacrifício e abandono das nocivas condescendências. Mas no fim se verificará que a Natureza, não sendo estorvada, faz seu trabalho sabiamente e bem. Aqueles que perseveram na obediência a suas leis, ceifarão galardão em saúde de corpo e alma.[11]

Eis onde poderemos encontrar abundância de oxigênio e de substâncias vitais: no ar puro, na água, na luz solar, no jejum equilibrado, na terra, nas plantas e ervas medicinais, na alimentação conveniente, em exercícios físicos bem dirigidos, no descanso e na vida mais próxima do campo, da montanha e da praia; e, acima de tudo na confiança em Deus.

Dez fontes onde há vida em abundância! Mas o que a nossa sociedade vive buscando?

O ar viciado da cidade; qualquer tipo de bebida menos água; luz de escritórios com ar condicionado; glutonarias e bebedices; lugares que sejam distantes do contato com a terra; drogas farmacêuticas sintéticas e cheias de efeitos colaterais; monotonia e inércia física; apartamentos apinhados de gente; e, uma alimentação cheia de toda sorte de porcarias tóxicas! Fontes de vacuidade existencial e intoxicação orgânica!

Na visão biológica e energética da aplicação dos recursos naturais, não é o que comemos que nos dá energia; mas o que comemos, cria ou desperta uma energia que nosso corpo é capaz de catalisar e potencializar. Ora, que tipo de energia pode produzir substâncias tóxicas lançadas em nosso sangue?

Alfonso, Naturologista e Médico declara:

Esta vitalidade individual, energia interna ou potencial, não é outra que a physis ou vis medicatrix hipocrática, causa, não somente das manifestações da vida normal, mas de todos os atos curativos nos organismos enfermos. O mesmo que está presente na vida normal, cura nos momentos de anormalidade. Assim, também, as mesmas energias naturais que mantêm a vida fisiológica, são as que possuem a máxima capacidade corretiva para solucionar o processo (dito) patológico. Por isto, baseamos nossa terapêutica no estímulo pelos agentes naturais do meio que nos rodeia, sempre condizentes com nossa ideia de que a medicina é a arte de estimular e que não há outro estímulo normal se não o dos excitantes do meio que correspondem ancestralmente ao organismo que se gerou dessa origem. Daqui que, para nós, a higiene e a terapêutica sejam a mesma coisa, mas logicamente deduzida do ato acordado por todos os fisiólogos, de serem as funções patológicas um desvio, somente na quantidade das funções da vida normal.[12]

Após um período de excitação orgânica anormal sempre vem um período de depressão orgânica muito mais duradouro do que o estímulo. Isto acontece, porque o esforço para exterminar os agentes tóxicos do estímulo negativo que provocou a dita excitação orgânica anormal, é muito mais complicado do que gostaríamos que fosse.

Esta compreensão é diretamente verificada no uso de drogas, sejam elas lícitas ou ilícitas. A pessoa tem um resultado imediato na forma de uma determinada excitação celular e histológica qualquer, mas, exaurida a energia que foi estimulada pela ingestão deste composto tóxico, o corpo entra em depressão, porque esgotou suas reservas para favorecer a excitação histológica e, além da debilidade anterior que tinha, ficou mais intoxicado.

Da mesma forma, quando colocamos em nosso corpo uma substância que é rica em oxigênio e substâncias vitais, teremos uma ação inversa, isto é, não haverá desgaste negativo, mas uma elevação da energia interna. Tal condição pode ser alcançada somente de uma única maneira em todo o planeta Terra: observando-se as dez indicações que apresentamos há poucos instantes. Não há qualquer possibilidade de uma Medicina ser verdadeira e saudável fora deste conceito!

3. O Que Significa Dizer Que a Vida Está no Sangue?

Temos uma base de sustentação inequivocamente demonstrável e universalmente aceita: a vida humana está no sangue. Em todas as épocas e em todas as partes, quando este precioso líquido saiu do corpo ou quando parou de mover-se dentro do corpo a vida encerrou-se e a pessoa que estava naquela condição faleceu. Não importava sua condição social, raça, cor, sexo, idade, religião ou ideologia – se o sangue parar ou esvair-se a vida acaba.

O que os Naturologistas estão afirmando e o fazemos aqui, é que, pela condição dietética, a pessoa pode ter uma alteração tão drástica em seu sangue, que o que era sangue, acaba de deixar de ser verdadeiramente sangue.

Em citação já exposta e que aqui repetimos, o Dr. Márcio Bomtempo adverte:

Fato digno de nota é a condição do sangue do homem moderno; muito ácido, bastante viscoso, pobre em oxigênio, carregado de toxinas e excesso de gorduras, remédios e de minerais tais como cálcio e sódio.[13]

A condição sanguínea, que vimos ser diretamente dependente da alimentação que praticamos é toda a possibilidade de vida que temos! Ora, como é carregar um sangue ácido, tóxico, cheio de radicais livres e com toda sorte de anormalidades químicas?

Temos afirmado que a própria capacidade de pensar depende desta condição sanguínea, pois, sendo o cérebro uma imensa massa de células que carecem de oxigênio e outras substâncias vitais, é claro que, se nosso sangue estiver tóxico, tais células não irão funcionar corretamente. E os tratados de neurofisiologia podem esclarecer o que queremos dizer quando dizemos que um sangue tóxico causa danos definitivos e terminais nas células do cérebro.

Mas um sangue tóxico também causa danos parciais, e estes danos manifestam-se na conduta egoísta, avarenta, ciumenta, invejosa, violenta, antipática, enfim, egocêntrica e danosa ao seu possuidor e aos que o rodeiam. Milhões estão cheios de doenças mentais de toda sorte, devido ao fato de que o sangue que carregam nas veias está cheio de acidez, de toxinas e substâncias deprimentes.

Todos sabemos que para a realização de nossas múltiplas atividades necessitamos de saúde. E saúde é entendida pelos Naturologistas como uma condição de equilíbrio das potencialidades do ser humano holístico (indivisível e integral).

Pois bem, ao falarmos de energias corporais, que é a mesma coisa que falarmos de sangue em circulação, falamos de uma construção especial assim entendida:

As células não utilizam os próprios alimentos para seu suprimento imediato de energia. Pelo contrário, usam quase que exclusivamente um composto químico chamado de Trifosfato de Adenosina, simbolizado por ATP, para essa energia. Os alimentos, por sua vez, são usados na síntese de mais ATP (…) Em resumo, existe uma reserva de ATP em cada célula que fornece a energia necessária para a contração muscular, para o desenvolvimento dos potenciais de membrana, para o desenvolvimento dos potenciais de membrana, para a absorção ativa, etc., mas esse trifosfato de adenosina deve ser reposto continuamente.[14]

Do ATP declara ainda Arthur Guyton:

(…) o ATP é um composto intermediário que tem a capacidade peculiar de participar de numerosas reações acopladas – reações com o alimento para extrair energia e reações observadas em muitos mecanismos fisiológicos para fornecer a energia necessária para sua operação. Por esta razão, o ATP tem sido considerado como a energia circulante do organismo, passível de ser adquirida e consumida repetidamente.[15]

Não é, pois, redundância nossa afirmar que, tanto o oxigênio como as substâncias vitais necessárias para a vida do corpo, resumem-se finalmente neste ATP. E, como declarou aqui Guyton: “tem sido considerado como a energia circulante do organismo”.

Temos então duas informações muito importantes no entendimento do valor do ATP e do sentido da nutrição humana:

  1. A grande energia vital que está presente em todo o nosso corpo é o ATP, o que significa dizer que a vida que o sangue carrega dentro de si é este ATP;
  2. Este composto de energia elementar é extraído dos alimentos que usamos diariamente em nosso procedimento dietético.

O que os Naturologistas afirmam é que toda esta energia representada pelo ATP, possui um ciclo de trocas. O que seriam estas trocas? De forma bem direta, a relação de entrada e saída que ocorre na homeostasia orgânica, que é a mãe de todas a nossa vitalidade e autorregulação corporal.

Destas trocas diz a Catedrática de Fisiologia da Universidade de São Paulo, Dra. Margarida de Mello Aires:

O organismo vivo depende de um grande número de processos regulatórios para manter constantes as condições de seu meio interno, o milieu intérieur de Claude Bernard. Este meio interno, no qual estão imersas todas as células do organismo, corresponde no mamífero ao líquido extracelular, basicamente uma solução de cloreto de sódio com pequenas concentrações de outros íons, como potássio e cálcio (…). uma série de propriedades deste fluido, incluindo pressão, volume, osmolaridade, pH, concentrações iônicas e de outros componentes, deve ser mantida dentro de faixas estreitas de variação para permitir que as células sobrevivam em condições normais de funcionamento. Estas propriedades, em seu conjunto, são denominadas de homeostase, e definem as condições normais de vida de um determinado organismo. Os processos encarregados de manter esta homeostase são mecanismos de regulação, e seu estudo constitui um dos principais objetivos da Fisiologia. (…) Um processo regulatório pode ser representado por um mecanismo básico denominado sistema, que consiste em um grupo de componentes interconectados que interagem, sistema este que apresenta para uma dada entrada uma saída previsível. Os componentes do sistema podem ser mecânicos, elétricos, eletrônicos, químicos ou biológicos. No último caso, que é o que nos interessa, estes componentes podem ser constituídos por células nervosas interligadas por dentritos e axônios; por células capazes de produzir substâncias (humores) que atuam sobre outras células à distância; por células que detectam modificações da homeostase diretamente ou através de outras, especializadas em receptores específicos, e que, por sua vez, ativam mecanismos neurais que levam a determinadas respostas mecânicas (ação muscular) ou químicas (secreção), etc. (…) Frequentemente é difícil, ou mesmo impossível, atingir-se o ideal de conhecer com detalhes todos os componentes e mecanismos de interação dos mesmos em um sistema, para deduzir daí suas propriedades. Por isso é muito utilizada, especialmente entre processos biológicos, a técnica empírica de analisar um dado sistema observando as relações entre sua entrada e saída.[16]

Estas trocas (entrada e saída) numa compreensão macro-orgânica, acontece entre dois sistemas energéticos dentro do próprio corpo: o sistema neural e o sistema metabólico. O sistema neural compreende um único subsistema direto: o subsistema nervoso. Já o sistema metabólico, tem sido compreendido na unidade fisiológica que há entre onze partes profundamente interligadas quais sejam: circulatória, pulmonar, epitelial, renal, geniturinária, imunológica, linfática, óssea, muscular, gástrica e intestinal.

Quando este equilíbrio homeostático é perdido, os Naturologistas não lançam no sangue onde só deve circular a vida (ou ATP), substâncias que irão diminuir sua capacidade de reencontrar a própria vitalidade. Usamos a ferramenta terapêutica do estabelecimento de um sistema rítmico, que poderá reorganizar a cronobiogênese do indivíduo, e recuperar a homeostasia natural, que é a única verdade sobre a saúde.

Sem a compreensão cabal e a observância dos grandes fundamentos de conduta neste assunto, é impossível a conquista de uma boa condição de saúde. É na ignorância dos postulados da nutrição ou na desatenção às leis da boa alimentação que reside à causa de mais de 90% de todas as moléstias que afligem a raça humana.

Como declarava em 1968 o Dr. Antônio A. de Miranda:

No desenvolvimento e crescimento do indivíduo, desde a aurora da existência até à completa maturidade, tanto na vida adulta, como na velhice, a alimentação está sempre em primeiro plano, refletindo-se profundamente na qualidade e na quantidade de trabalho que se possa efetuar. É fato provado cientificamente e mesmo não foge à observação popular que as crianças bem alimentadas crescem mais rapidamente do que aquelas cuja alimentação deficiente não lhes fornece todo o material de que necessita o organismo infantil para se desenvolver. O trabalho depende também da nutrição do organismo. Jamais alguém ignorou que se possa apresentar a resistência necessária ao cansaço provocado pelo trabalho quando se está em estado de desnutrição; ninguém pode trabalhar com fome. (…) O organismo humano possui um mecanismo de regulação própria, contudo o alimento influencia consideravelmente o meio interno, o sangue. Este é o intermediário universal do organismo, pois, circulando através de todos os órgãos do corpo, leva em si os princípios alimentares, influenciando assim (quer para melhor, quer para pior) os músculos e o cérebro igualmente.[17]

É dever de toda pessoa conhecer pelo estudo cuidadoso as bases da alimentação e como ela influencia sua vida mais íntima refletindo-se na vida social. E esta consciência deve vir como uma resposta ao fato de que precisamos de bom sangue para termos saúde e que o mesmo deve estar livre de toxinas de toda espécie.

Neste nosso livro, procuramos apresentar a resposta educativa e naturológica para este grande anseio de todas as pessoas inteligentes e que buscam qualidade de vida real.


[1] Mateus 26:27-29

[2] LEVÍTICO 17:11, 14.

[3] WHITE, Ellen Gould. A Ciência do Bom Viver. Casa Publicadora Brasileira. Tatuí, SP. 1997, p. 271-272.

[4] GUYTON, Arthur C. Tratado de Fisiologia Médica. Ed. Interamericana. Rio de Janeiro, RJ. 1977, p. 197.

[5] MARCONDES, Marcelo & Outros. Clínica Médica – Propedêutica e Fisiopatologia. Ed. Guanabara Koogan. Rio de Janeiro, RJ. 1979, p. 416.

[6] BRAUNWALD, Eugene. Tratado de Medicina Cardiovascular. Ed. Roca. São Paulo, SP. 1991, p. 1825.

[7] BOARIM, Daniel de Sá Freire. A Dieta Que Evita o Câncer. Vida Plena.  S.P. 1996, p. 145-146.

[8] BONTEMPO, Márcio. Relatório Órion. L&P Editores. Porto Alegre, RS. 1985, p. 13, 14.

[9] GUYTON, Arthur C. Tratado de Fisiologia Humana. Ed. Guanabara Koogan. Rio de Janeiro, RJ. 2000, p.430.

[10] ALFONSO, Eduardo. Medicina Natural em Cuarenta Lecciones. Editora Kier, Buenos Aires. Argentina, 1992. p, 95. (Tradução livre).

[11] WHITE, Ellen Gould. A Ciência do Bom Viver. Casa Publicadora Brasileira. Tatuí, SP. 1997, p. 271-272.

[12] ALFONSO, Eduardo. Medicina Natural em Cuarenta Lecciones. Editora Kier, Buenos Aires. Argentina, 1992. p, 96. (Tradução livre).

[13] BONTEMPO, Márcio. Relatório Órion. L&P Editores. Porto Alegre, RS. 1985, p. 13, 14.

[14] GUYTON, Arthur C. Tratado de Fisiologia Humana. Ed. Guanabara Koogan. Rio de Janeiro, RJ. 2000, p.430.

[15] GUYTON, Arthur C. Tratado de Fisiologia Médica. Ed. Guanabara Koogan. Rio de Janeiro, RJ. 2001, p.655.

[16] AIRES, Margarida de Mello. Fisiologia. Editora Guanabara Koogan. Rio de Janeiro, RJ. 1991, p. 7.

[17] MIRANDA, Antônio A. de, Nutrição e Vigor. Casa Publicadora Brasileira. Tatuí, SP. 1968, p. 19-24.

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